terça-feira, 30 de agosto de 2011

Inícios: ainda a forma do conto



por
Diógenes Maciel




Creio que a forma como temos trabalhado, nesta jornada atual do PINEL, teve seu centro numa demanda pessoal de Duílio [Cunha]. Ele estava querendo trabalhar com formas narrativas no teatro. Ou seja: adoro! Eu sempre fui taxado como dramaturgo [morro de medo disso!] que escreve teatro narrativo. Alguém, certo dia, até já chegou a dizer que, nos meus textos, as “personagens não conversam...” Realmente, talvez, isso seja verdade. Hoje em dia tenho impressão de que eu faço isso conscientemente, como proposta estética, opção mesmo de trabalho. Todavia, nos meus primeiros exercícios, a coisa ia aparecendo assim mesmo, sem planejamento, na medida em que a matéria ia se formalizando. Então, o que fazer?

Tenho predileção pela “contação” de histórias. Obviamente, estou inserido em minha própria experiência como leitor de teatro. Afinal, o que eu leio? As tragédias gregas, ou o drama moderno [europeu e estadunidense, além, óbvio do brasileiro]. Daí, a questão fica bastantemente mais simples de entender. Se o diálogo formal é meio comunicacional no teatro, e isso está lá nas tragédias, ele também, neste contexto, se combinava com excertos narrativos apreensíveis nas falas do coro, que situava o conflito, trazia informações externas, contava, então, a história. Não vou aqui traçar uma linha da história do teatro, mas, como já nos ensinou Peter Szondi, tal tendência aparecerá no teatro medieval, nas peças elizabetanas, no drama barroco. A questão é quando chegamos ao drama moderno. Neste momento, fins do século XIX, o diálogo formal começa a ser problematizado, como vemos em Tchekhov, e as personagens quase desempenham o diálogo ‘de surdos’, ou seja, a comunicação fica truncada, improdutiva. E esse processo vai se radicalizando até a esfera narrativa começar a dominar a cena, como teremos em Brecht, o que não quer dizer que o diálogo desapareça. Sempre acho que, mesmo nos monólogos, há um diálogo, nem que seja com a platéia.  A questão é que não acredito mais na peça de conversação. Ela não diz de nosso momento sociocultural, de nosso estar-no-mundo. Há muita discussão teórica sobre isso e agora mesmo ando lendo sobre isso e estou encantado com as reflexões do Luís Alberto de Abreu – um capítulo para outra conversa nossa.

Voltando ao começo. Duílio, então, nos propunha o trabalho a partir da narrativa curta. Os atores da primeira etapa [eram sete àquela altura] trouxeram contos curtos. E eu lá com “Cícera Candoia”, de Ronaldo Correia de Brito, debaixo do braço! Não era possível desprezar o material sobre o qual eu falei no post anterior. As improvisações e o treinamento técnico começaram. Foram tardes e tardes tentando descobrir possibilidades: observar o outro, problematizar a situação, escolher o ponto de vista, sair e entrar da personagem, analisar criticamente a personagem, distanciar-se dela, aproximar-se dela, descobrir a voz, o corpo. Afinal, como se “conta” uma história no teatro? – É necessário descobri isso, treinar. Observar o outro, ver a ação se construindo no arcabouço verbal, mas, também, no plano da ação física, que, em princípio, não deve, apenas, ilustrar. Creio que para este primeiro grupo, o exercício parecia sem sentido: quais os personagens? De onde eles partem? Como se constrói um personagem diante disso? E, ao que me parece, isso não era o mais relevante, mas, antes, o ponto de vista. De onde se narra? Quem narra? Como o ator se torna um narrador – ou, como temos chamado, a partir de Sarrazac, um rapsodo? Curiosamente, como na tradição grega, o rapsodo já era um algo extremamente diverso: junção de ator, declamador, recitador, performer e especialista em literatura, capaz de discuti-la, com alguma competência, após a sua apresentação, em público. O centro era o texto e sua capacidade de performatizá-lo [será que isso se escreve assim, meu Deus?] para uma platéia e o texto era, sempre, de natureza épico-narrativa.

Penso que, diante deste impasse, de tarde infindáveis de exercícios que, apenas aparentemente, não levavam a nenhum lugar, o grupo foi se reduzindo e restaram cinco. Diante de um novo impasse, e de demandas do grupo, acabamos por formalizar um primeiro princípio: iríamos começar a lançar um desafio que se centraria na possibilidade de mostrar resultados provisórios, afinal, o que tínhamos na mão era uma pesquisa. E, em algum momento, ela tinha que ser lançada ao público, testada em suas hipóteses, em suas certezas provisórias, rumo a um resultado provável, mas já vislumbrável.

Com as várias partidas, fomos para o que já havia. E “Ciça” voltou. Este seria, portanto, a primeira idéia a ser trazida à cena. Na verdade, na verdade, a primeira idéia do PINEL foi, talvez por conta da minha presença, propor uma montagem de uma adaptação que eu fizera, tempos atrás, sob encomenda, de dois textos de Brito – o tal falado aqui “Cícera Candoia” e “Mentira de Amor”, ambos de Faca. Eu, no fundo, tinha – e talvez tenha – o desejo de ver uma montagem do, assim chamado, Armadilhas. Acho que, àquela altura, havia uma espécie de consenso imposto de que essa culminaria como sendo a primeira montagem do PINEL. Se era assim, então, começamos, de maneira mais efetiva a pensar no núcleo de Ciça para uma primeira possibilidade de exposição pública de nossos intentos. Sendo que, na medida em que o trabalho de treinamento avançava, eu não conseguia mais ver o Armadilhas. Era algo novo que se anunciava, mesmo que a história de Belmira, ainda me perturbasse e eu quisesse fazer isso. Não mais só Ciça que se impunha, havia a maravilha dos depoimentos de Nayara e Regina. E eles tinham que aparecer. Era uma coisa que havia eclodido com muita força em algumas das tardes de preparação: quem éramos nós mesmos? Isso precisava aparecer nos textos. Quais os limites, afinal, entre ator-narrador, ator-personagem e ator-pessoa física?


Pedi, então, a Anderson e a Cláudia – os restantes, junto com Chico, que viajara para Sampa, de férias – que, também, me escrevessem algo. Não preciso dizer que els não fizeram – Anderson só fez bem depois, sob muita pressão. Ódio dele por isso! E, nas nossas muitas conversas, aparecia sempre um incomodo: uma vontade danada de fazer algo, outra vontade danada de correr mundo, outra vontade danada de voltar – no tempo, no espaço, na imaginação.... E, então, eu ganhava o título que hoje dá nome ao nosso trabalho, brotando, se impondo e surgindo de tudo isso: ao mesmo que tempo que era possível – ou deveria ser – ficar aqui [no tempo histórico, no espaço, na vida] também era urgente ir, partir, mas, também, voltar. Foi assim que eu batizei o que viria a ser de Como se fosse [im]possível ficar aqui. Apesar da grandiloqüência do enunciado, era um título, caro a mim, pois das possibilidades surgem o seu contrário, e vice-versa. As pessoas gostaram. E Duílio teve a primeira idéia chave; partiríamos, então, antes da estréia de qualquer espetáculo o nosso trabalho em três exercícios, com um cronograma, mais ou menos, amarrado. Teríamos o compromisso, a partir dali, de apresentar: [1] o Como se fosse...; depois o [2] [im]possível e, por fim, o ... ficar aqui. E assim, começamos. 

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Primeiras Fotos...

Na última sexta-feria, dia 12 de Agosto foram apresentadas as três cenas-ensaios do Pinel nomeadas de: Como se fosse [im]possível ficar aqui.
Estas são algumas fotos, confira!!!


















Alyson Jesuíno

domingo, 14 de agosto de 2011

Retratos Moldados


O meu olhar diante dos atores do Pinel...

Sobre a atriz Nayara Brito, há este texto lindo de Caio F. Abreu que a descreve perfeitamente:
Ela é uma moça de poses delicadas, sorrisos discretos e olhar misterioso. Ela tem cara de menina mimada, um quê de esquisitice, uma sensibilidade de flor, um jeito encantado de ser, um toque de intuição e um tom de doçura. Ela reflete lilás, um brilho de estrela, uma inquietude, uma solidão de artista e um ar sensato de cientista. Ela é intensa e tem mania de sentir por completo, de amar por completo e de ser por completo. Dentro dela tem um coração bobo, que é sempre capaz de amar e de acreditar outra vez. Ela tem aquele gosto doce de menina romântica e aquele gosto ácido de mulher moderna.
Um texto da escritora Lisiê Silva fala muito bem da atriz Regina Albuquerque. Seu texto diz, à respeito da mulher madura:
Até os 40 anos, a mulher tem o direito de ensaiar a sua presença no espetáculo da vida, após os 40 as cortinas se abrem e ela está pronta para começar a atuar como estrela principal. Principalmente para ela mesma, pois  já cumpriu as obrigações e os deveres que lhe foram atribuídos pela sociedade e familiares.
A mulher madura possui uma inteligência reveladora, um quê de mistério, um jeitinho de sedutora, uma beleza atraente, é dona de si. Ela respira juventude e transpira maturidade. Possui encantos que ela mesma não consegue disfarçar. É experiente, metade da vida já viveu, e guardou histórias pra contar.
Ela acompanhou a evolução dos últimos tempos, sabe do passado, vive o presente e aguarda o futuro. 
Ela evoluiu com o passar dos tempos, lutou pelos seus direitos, revolucionou mitos e preconceitos, derrubou barreiras que o passado construiu ao seu redor, quebrou regras e  tabus,  abriu as janelas do mundo para vislumbrar novos horizontes, conquistando o seu espaço, de igual para igual,  na vida, no trabalho e na sociedade masculina.
A mulher madura é forte, é determinada, é independente, tem jogo de cintura, procura e encontra saídas, enfrenta situações e resolve problemas, tem opinião, tem memória. Tem afeto e aprendeu a amar.

À respeito ao ator Anderson Marcos, uso um texto de um escritor desconhecido, o qual, eu creio, serve para descrevê-lo:
"Depois de plantada a semente deste incrível arbusto, não se vê nada, absolutamente nada, por um tempo - exceto o lento desabrochar de um diminuto broto, a partir do bulbo.  Durante esse tempo, todo o crescimento é subterrâneo, numa maciça e fibrosa estrutura de raiz, que se estende vertical e horizontalmente pela terra. Mas então, o bambu cresce, muito até as alturas". “Muitas coisas na vida (pessoal e profissional) são iguais ao bambu. Você trabalha, investe tempo e esforço, faz tudo o que pode para nutrir seu crescimento, e às vezes não se vê nada por semanas, meses ou mesmo anos. Mas, se tiver paciência para continuar trabalhando e nutrindo, o tempo chegará e o crescimento e a mudança que se processam o deixarão espantado. O bambu mostra que não podemos desistir fácil das coisas... Em nossos trabalhos, especialmente projetos que envolvem mudanças de comportamento, cultura e sensibilização para ações novas, devemos nos lembrar do bambu que apesar de toda a sua altura, ele é capaz de curvar-se até o chão diante de um vendaval. No entanto, tão logo cesse o vento, ele se reergue e volta a ser majestoso como sempre. Devemos lembrar sempre do bambú para não desistirmos fácil frente às dificuldades que surgem e que são muitas".

Ao falar do ator Chico Oliveira, me vem à memória um belo trecho da obra da minha querida Clarice Lispector que diz:
...Há impossibilidade de ser além do que se é, no entanto eu me ultrapasso mesmo sem o delírio, sou mais do que eu, quase normalmente tenho um corpo e tudo que eu fizer é continuação de meu começo...
A única verdade é que vivo. Sinceramente, eu vivo.
Quem sou? Bem, isso já é demais...
Mas, pra mim, Chico Oliveira tem uma figura imponente, que se destaca. Ele parece com uma árvore frondosa que, de tão alta, dá pra acompanhar seu crescimento. O jequitibá é um belo exemplo do que compararei com ele, o nome jequitibá em tupi-guarani significa gigante da floresta, o que é compreensível, pois, quando é adulta, esta árvore se destaca das demais. Assim ele o faz, sua postura, sua voz mansa, seu jeito de mostrar sua figura, são todos predicados dos dois, da árvore e de Chico Oliveira.

Alyson Jesuíno

Sentidos e Sensações


O dia “D” do Pinel foi na última sexta-feira 12, o grupo se reuniu e partiu de Campina Grande com destino à Piollin em João Pessoa: a expectativa e emoção tomavam conta de todos, menos do diretor Duílio Cunha o qual se dizia: tranqüilo e sereno. Estava tudo arrumado, atores prontos, texto passado, organização e o público chegando. A apresentação começou às 19h20min, e, com uma trilha de intrigar e agarrar pela mão a nossa memória, a cena começou.
A primeira cena-ensaio veio com calma e suavidade, trabalhando com “Cícera Candóia” e dando sua belíssima versão nos palcos com força e sentimento. Nessa cena, o tema fica em torno de Cícera da sua mãe, as atrizes: Nayara Britto e Regina Albuquerque, me deixaram abismado com sua sincronia e emoção à flor da pele, o que me arrepiava a cada fala.  Houve um momento, para mim, sublime: quando a conversa da mãe com Cícera, falando do passado era dividida entre os atores Regina Albuquerque e Chico Oliveira. A cena se encerra com a partida de Cícera. Há um pequeno intervalo e a segunda cena já se inicia.
A segunda cena-ensaio começa, mas está diferente da primeira: vem com som e fúria!
Ao som da trilha sabemos que a cena irá começar, e mais bela e sincronizada do que antes, com textos dos próprios atores intercalados com os textos do dramaturgista, o grupo mostra sua cara, sua força, seu amor pela arte. A cena vem tomada pela emoção e características dos atores, os quais revelam: quem sou eu e porque estou aqui. Textos que eles mesmos criaram dando suas faces aos personagens e trazendo a cena para a nossa realidade.
Já no meio da cena, os textos se misturam à voz grave e peculiar da atriz Nayara Brito que cantando “Mamãe, Coragem” nos emocionou e nos remeteu a lembranças da nossa vida.
A terceira cena inicia e vem com um fulgor enorme, logo todos notam e até comentam que esta é a cena em que os atores mostram a que vieram, a cena completa é feita com muita emoção e vivacidade, todos estão conectados pelas duas primeiras cenas e essa terceira vem pra arrematar e dar o ponto final. As falas e o simbolismo caracterizando a [im]possibilidade de partir e a vontade de ficar. Todos os atores, com o seu próprio sentimento de ir ou ficar dão o tom à cena que se finaliza belíssima com um abraço caloroso, que só é interrompido pelo aplauso da platéia.

Alyson Jesuíno

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Quem é essa tal Cícera Candóia?

E essa Faca? Que faca é essa que corta a pele e chega até a alma?
Cícera Candóia é uma personagem, e é ela também que dá nome a um dos contos de Ronaldo Correia de Brito, do livro: Faca. Essa Faca, ao meu ver, é a vontade ou desejo que fica nos roçando, arranhando, cortando até a alma, é a questão do querer e do poder. Do que temos vontade de fazer e o que podemos fazer. Ou até mesmo as condições que nos são impostas, pela vida, pelo destino ou por decisão própria, pois há pessoas que não acreditam no destino e que acreditam que a vida é feita por escolhas, ou pela falta delas... o que não deixa de ser. Mas, ainda há pessoas que sabem que a vida é feita por escolhas e que estamos todos pre dipostos a seguir nossa sina, nosso destino. E que não importa que caminho tomamos  a vida é como um funil: não importa o quanto arrudiemos sempre vamos cair no mesmo lugar.
Em “Como se fosse [im]possível ficar aqui”, vemos em uma das cenas-ensaio  o conflito do querer e do poder, quero ficar, quero ir, ou posso ficar, posso ir. E como vai se desenrolar isso?
No conto de RCB, Cícera depois de muito pensar e refletir sobre a vida que tinha e a vida que ela  queria ter, decidiu partir, mas, sem peso na consciência de deixar a mãe, já decrepita  e sem juizo, sem os seus cuidados. Depois de uma conversa dura e cheia de resentimentos com sua mãe, esta lhe deu a deixa: Cícera envenena a mãe e parte para uma vida desconhecida, cheia de esperanças e de sonhos, longe de tudo aquilo que um dia lhe fez mal ou bem, afinal, quem pode julgar? Ela estava cansada da mesmice e não queria repetir a sina da mãe: isso era certo.
Acho o conto profundo e sincero, com uma linguagem simples e que nos faz pensar. Várias imagens vieram à minha mente em torno da noite em que Cícera decidira partir. Os seus rostos amarronzados pela luz do candieiro, as marcas do sofrimento e da solidão, o sentimento à flor da pele, a jovem com seus sonhos e anseios por uma vida melhor. E é o que todos nós queremos, uma vida melhor, com mais expectativas...

Alyson Jesuíno

domingo, 7 de agosto de 2011

primeiras palavras

Faz algum tempo que eu não escrevo algo como isto. Acho que desde que eu abandonei o meu blog próprio. Mas, creio, se faz necessário voltar. A dramaturgia que ensaio escrever hoje, do lugar de onde eu olho e de onde eu estou, tem relações estreitas com a minha experiência pessoal – ou seja, com o lugar onde eu sou: um anônimo que diálogo com outrem em busca de algo. Nunca estudei artes cênicas, de maneira formal, nem, também, nunca assisti a aulas de dramaturgia. Não sei como – aliás, sei sim – acabei estando enveredado nestes caminhos. Cresci assistindo televisão. E fui algumas vezes ao cinema e ao teatro com minha família, quando ainda era criança. Assisti muita ‘sessão da tarde’, numa época em que a programação de filmes era bem diversa da atual. Sempre adorei os musicais. Sempre. Cresci. Um dia vi AS VELHAS, sob direção de Moncho Rodriguez, e sobre esta história não vou falar de novo. Quem me conhece sabe. Continuei amando o musical, mas, agora, não só no cinema. Com o advento da internet, descobri o musical enquanto forma dramática, em meio mesmo à indústria cultural, mas também conheci a contracultura possível nesta forma-produto. Um dia, nas noites da TV, conheci a Carmen, de Bizet. Conheci as peças do Chico Buarque, e fui levado a elas pela música de um velho vinil de uma coleção de MPB que havia lá em casa. Comprei os textos. E acabei me tornando um diletante, depois um pesquisador, e, hoje em dia, li muito, estudei muito, vi muito teatro. E acho que conheço um pouquinho do que ele é. Bem pouquinho...

Ouvi hoje uma frase interessante: “O teatro existiu antes de mim e existirá para além de mim”. Apesar de sua aparente obviedade, isso me colocou numa posição de perspectiva. Escrevi teatro para meu grupo de jovens na igreja, e, um dia, por uma provocação de uma amiga, escrevi um monólogo. Ganhei prêmio e tudo! Depois, fui convidado para escrever uma paixão de Cristo. E se sei que ela – a minha dramaturgia – não foi a melhor de todas, sei também que ela mudou um rumo, ou ajudou a mudá-lo. Essa paixão se não é a mais lembrada, pra mim ela é basilar. Talvez pela minha vida que ela ajudou a mudar. Trabalhei como dramaturgista em outra. Essa me desafiou, me tornei letrista e tudo! Depois trabalhei em outros projetos, incluindo um lindo auto de Natal, que rendeu frutos por dois anos. Enfim, mas o que isso tem com tudo o que quero falar? Talvez nada. Ou tudo.

Quando cheguei à Campina Grande, queria re-encontrar o teatro. E o prazer de estar nele. Desejei em mil conversas com Regina [Albuquerque] começar algo. Mas, sempre o mesmo: como? Onde? Quando? Com quem seria? Até que um dia começamos, por razões que não cabem aqui, uma idéia: iríamos fazer uma espécie de musical-colagem-performance partindo de um mote – vivemos em um tempo de guerra. Acho que esse mote, que surgiu daquele contexto sobre o qual não vou falar aqui, se transformou pela minha admiração pela voz de Nayara [Brito, às vezes Nara Belmonte], quando trabalhamos juntos na leitura do Liberdade, Liberdade, no SESC. Sua voz me remetia – e sei que ela não vai levar à sério – à aspereza-suave da voz da Betha, nos idos da década de 60. E daí relacionar com os shows da Betha era um passo. Convidei Adeilma [Bastos] e Abisague [Cavalcante] e tínhamos quatro mulheres para falar sobre este tema-matriz. Não sabíamos o que iríamos fazer, só sabíamos que era de um jeito que a gente gostava, do jeito que a gente sabia fazer, e do jeito que dava pra ser: esse se tornou um lema por um tempo para nós.

Havia muito desejo de que desse certo. Não tenho técnica, não sou diretor, nunca tive pretensão de sê-lo, mas meio que tive que começar a fazer isso: nas inúmeras tardes em que nos encontramos para cantar músicas que queríamos no que poderia vir a ser, ensaiávamos juntos possibilidades, arranjos vocais e instrumentais. Cantamos o Borandá, de Edu Lobo, e o Mamãe, Coragem, de Caetano. Líamos a Hora da Estrela, de Clarice. Vimos imagens de adaptações e a imagem da nordestina migrante apareceu. Ela era uma outra matriz. Lemos Cícera Candoia, de Ronaldo Brito. E ela se estabeleceu. Mas, também, eu queria que as meninas falassem: e surgiu a idéia do: quem sou? De onde eu vim? Para onde eu vou? Elas me entregaram, depois de relutâncias, e emergiram do papel coisas lindas. Sentidas. Sofridas. Lindíssimas mesmo, que também são ditar ainda hoje no palco, felizmente. E um fantasma começou a rondar: e a cena?

Para a cena precisávamos de alguém que pudesse guiar a jornada. A esta altura, Duílio [Cunha] estava em Barbalha-CE, mas passava algumas vezes pela Paraíba. Pedi ajuda. E ele ajudou. Surgiram bases de cena que, hoje, estão lá no que estamos montando – mas, já-já, eu chego lá. Mas, ele tinha que partir. E ficamos, de novo, sós. E a coisa desandou. Aparecia um fantasma que eu passei a chamar de síndrome do grande diretor. Sem esta figura, parecia que a coisa não ia mais pra canto algum, pois a cena aparecera e, de alguma forma, fora abortada. Tentamos, ainda. Eu, Regina e Nayara, nos reunimos uma ou duas tarde, retomamos a sequencia, buscamos caminhos. Literalmente. Lembro de uma tarde em que trabalhamos a caminhada de Ciça e da Mãe. Uma tarde inteira. E hoje em dia esta caminhada lampeja na cena que está montada. Mas, lembro muito bem da tarde em que ela nasceu, ao som da trilha do Ensaio sobre a cegueira. Perdemos a motivação. E silenciou. Mas, do silêncio surgiu barulho. De novo. Quando Duilio voltou pra Paraíba, numa tarde, em meio a um bom café, falamos sobre a possibilidade de termos um grupo estável de pesquisa. E surgia o gérmen do que seria, depois, o PINEL. È sobre isso, no fundo, que eu quero falar. Na verdade, sobre o lugar da dramaturgia, que é o que me cabe. Mas fica pra depois. Eu volto: juro. Em breve. 

Diógenes Maciel

Sessão Coruja

Acabei agora de assistir ao dvd do espetáculo "Mistérios da Paixão de Cristo", encenado em João Pessoa em março de 2005. A dramaturgia foi escrita pelo nosso querido Diógenes Maciel (que fecha, como sempre) e no elenco, Duílio Cunha, o diretor (também querido) das nossas cenas-ensaio.
Essas duas figuras já estão na estrada há um tempo, e o que eu quero dizer com é: nosso núcleo integra uma equipe diversa. Pois, se Duílio tem uma formação acadêmica nas artes cênicas, Diógenes foi importado - ou autoimportado - das letras para este universo fantástico, para o qual contribui com textos que me deixam de cara, como ele diria. Por outro lado, há Regina e Chico, crias de Moncho Rodrigues. Regina, a propósito, tem uma ligação forte com a dança. Por fim, eu e Anderson, "tão jovens, que jovens somos", começando a nossa jornada pelos palcos e salas de ensaios da vida. Anderson com uma expressão corpórea um bocado trabalhada (ele também é da dança). E eu.
Observando alguns atores e atrizes do "Mistérios...", me encanto e sinto medo. Medo de não dar conta de apresentar as cenas para esse público na próxima sexta. Mas dou, ao meu jeito. Mesmo que não seja ainda um jeito belo (e vivo!) de levantar a cesta e (en)cantar as pessoas, aos 4 ventos.

E nem sei se estas reflexões cabiam aqui. Mas fica o dito pelo dito mesmo.


Nayara Brito.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Nota rápida

Melhorando marcas, tônus, gestos;
Retomando antigas ideias
e criando novos detalhes.
Arrochando as cenas.
E a ansiedade tomando de conta (em mim e em Anderson, pelo menos, estava por demais visível hoje à tarde)
O público será mais exigente e eu estou dando o meu máximo (quase).
Bateu surto antes de começarmos, um nervoso, sei lá. Chorava e ria ao mesmo tempo.
Mas, como Duílio não dá cartaz a essas "fechações" nossas, puxou-me pela mão e disse: "vamo trabalhar, maga véa!"
Afinal, é o que posso fazer.


Bjosss
Nayara Brito.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Como se fosse [im]possível ficar aqui...

... partimos próxima quinta para apresentar as três cenas-ensaio do PINEL em João Pessoa - PB, na sexta, 12. Não percam!

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Cícera Candóia - o retorno

Depois de uma pausa entre a apresentação do "... ficar aqui" e o Festival de Inverno, voltamos aos ensaios hoje. Ajustamos detalhes para a apresentação em João Pessoa, que se faz iminente, pensando as possibilidades que o local nos oferece, suas entradas, saídas e bandeiras (rs) e uma nova organização do público. Voltamos também, depois de semanas (meses?), a passar a cena do "Como se fosse...", para mim a mais difícil de fazer. Tenho por ela um carinho especial e uma relação diferente, porque ela tem a cara do início do grupo, sendo nossa primeira "amostra". Eu ainda estava verde nesse negócio de fazer teatro, estava não, estou, e tentei amadurecer Cícera Candóia hoje, fazê-la o melhor que eu pudesse, embora não pudesse muito. De uns dias para cá surgiu em mim a necessidade de me dedicar mais ao núcleo, me envolver mais, entender; escrever foi uma das maneiras que encontrei de fazer isso. A outra foi (é) tentar melhorar meu corpo ainda frouxo de atriz, e desempenhar melhor o material que já temos.
Ops, me liguei agora que só temos mais dois ensaios até a apresentação do dia 12... Como se fosse possível não ficar nervosa...

Assim sendo... beijos!
Nayara Brito.